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sábado, 24 de agosto de 2013

O Professor.

 Por Fernando Coelho


Abidã parou e observou um jovem no canto da espaçosa oficina usando um enxó. Era um dia quente, com pouca brisa para ventilar a marcenaria de Abidã. Abidã começou a caminhar, passou pelos outros vinte empregados e parou perto do jovem, que, de  tão concentrado no seu trabalho, não percebeu a presença do patrão.
 Inclinado sobre a antiga bancada de trabalho do seu pai, Abidã começo a observar os movimento do rapaz. Lembrou-se da ocasião em que seu pai lhe ensinou a usar um enxó.
 "Ioshua", disse Abidã, e cofiou sua barba grisalha. "Você deve fazer mais devagar."
 O rapaz se assustou com o som da voz de Abidã. "Desculpe, não percebi o senhor se aproximar."
 "Eu notei." Abidã se aprumou, pegou o longo cabo do enxó e montou sobre a tora de madeira pousada no piso. "Desbaste com movimentos mais curtos, Ioshua. Se você desbastar com muita força e muito rápido, vai remover mais madeira que o necessário." Abidã apoiou a lâmina de metal da extremidade do enxó sobre a tora, no lugar em que Ioshua estava desbastando, depois ergueu o cado e o deixou descer, direcionando a borda metálica afiada para a casca da árvore, mas sem atingir a madeira macia. Uma parte da casca foi desbastada. Abidã fez isso diversas vezes ate remover dois côvados de casca.
 "Venha aqui, Ioshua. Veja o pedaço que acabei de desbastar e o pedaço que você estava fazendo. O que você observa?"
 "O do senhor está muito mais liso. Eu cortei a madeira macia."
 "Exatamente. O importante é o controle e o foco. Os novos empregados seguram o cabo muito no alto. Para um melhor controle, posicione suas mãos mais perto da lâmina e faça movimentos suaves e curtos, removendo somente a casca. Compreende?'
 "Sim, compreendo. Movimentos mais curtos. Segurar o cabo em uma altura menor."
 "Correto. Ao menos, para este serviço." Abidã entregou o enxó de volta para o garoto. "Tente de novo."
 Ioshua montou sobre a tora e utilizou o enxó da maneira exposta por Abidã.
 "Está melhor assim? Você tem mais controle da ferramenta?"
 "Sim. Eu devia saber disso."
 Abidã sorriu. "Não seja tão severo com você mesmo, Ioshua. Todos os homens aprendem com os outros e com a experiência. Eu aprendi com meu pai quando era garoto. Faz muito tempo, na época em que meu pai e eu trabalhávamos sozinhos. Muita coisa mudou."
 "O senhor é o melhor carpinteiro de toda a região. Meu pai me lembra todo dia da minha sorte de ter encontrado uma marcenaria com um professor tão receptivo."
 "Seu pai pediu que eu ensinasse a você mais do que habilidades com madeira, Ioshua."
 "Meu pai nunca me contou como conheceu o senhor."
 Abidã sorriu. "Conheci seu pai há muitos anos. Ele era ainda uma criança de colo, nos braços da sua avó. Eu tinha treze anos. O pai da sua avó era um criado fiel na corte do rei Salomão." Abidã fez uma pausa. "Eles me ensinaram uma lição importante a respeito de ajudar os outros."
 "Eles ensinaram o senhor?"
 "Primeiro vi sua avó, na rua, tentando juntar um fardo de linho. Ela estava segurando a criança que se tornaria seu pai." Abidã se debruçou sobre a bancada de trabalho do seu pai e acariciou uma das tábuas. Embora Zera tivesse morrido havia quase trinta anos, Abidã sentia muito a sua falta. Suspirou de saudade e, em seguida, trouxe sua atenção de volta ao presente.
 "Devo tudo o que tenho às lições que o rei Salomão me ensinou. Prometi ensinar a você essas mesmas lições. Devo à sua família isso e muito mais."
 "O senhor compartilhará as lições de Salomão?"
 Abidã assentiu com um gesto de cabeça. "Me diga, Ioshua, o que significa este provérbio: "Prepara com antecedência teu trabalho e torna-o apropriado para ti, no campo; depois, trata de construir tua casa". )Provérbios, 24:27)
 Ioshua dirigiu o olhar para o chão e repetiu as palavras...







 Chegamos ao final das historias do rei Salomão, se você perdeu alguma delas aproveita e confere nos links a baixo:
Abidã- Acordo com Salomão.
O primeiro provérbio.
O muro
O bom negócio.
Os conselheiros do Rei.
O presente.
Verdadeiramente rico 1
Verdadeiramente Rico 2
Uma visita Real

  Em breve retornaremos com novidades sobre ele. Então seja sábio e não deixe de  acompanhar o alcateia.com que sempre pinta novidade, ok?


quinta-feira, 22 de agosto de 2013

Surto de vampirismo


Por Nanael Soubaim

Caríssimos, a coisa ainda não é alarmante, mas é grave. Há muito tempo venho recebendo queixas de pessoas a respeito. No começo eram casos isolados, mas parece que se tornou uma epidemia. Todo mundo que conhece um pouco da ciência, está reclamando de vampiros de energia que não conseguem localizar.

Ontem, voltando do trabalho, eu senti um pequeno fluxo prestes a sair de mim. Nada fiz além de ficar atento e, para minha surpresa, o vampiro em questão era um cidadão que estava logo atrás, sentado no assento de acompanhante de cadeirante.

Ele não estava intencionando cousa alguma. Meus gestos de tentar aparentemente conter o fluxo, não causavam qualquer reação, visível ou não. Notei com rápidas olhadelas, que ele estava muito, mas muito deprimido, desenganado mesmo. Passei o indicador na testa, para pegar um pouco de óleo e com ele fiz uma cruz na nuca, o que estancou o fluxo.

Novamente o cidadão não mudou seu comportamento. Novamente me pus a pensar no caso, porque eu também tenho notado o aumento de vampirismo que, pelo que percebi, é absolutamente involuntário. Por mais que os governos tentem maquiar a situação geral, com estatística mais compradas do que Fusca 1300, as pessoas estão descrentes com o futuro.

O que isso tem a ver com o vampirismo? Infelizmente, tudo. Uma pessoa em depressão profunda, por exemplo, tende a pensar rapidamente em suicídio, se não conseguir uma distração que seja. Inconscientemente, ela busca algo que lhe dê prazer, e um prazer baixo e fácil é sugar a energia alheia. Eles não fazem de propósito, ao menos enquanto não perceberem o que estão fazendo.

é mais ou menos como uma pessoa que fica presa em uma ilha deserta, e passa a pescar para sobreviver. A intenção dele não é matar o peixe, talvez nem goste, isso é conseqüência do desespero pela sobrevivência. com o tempo, mudando os modos de preparo e usando ervas que porventura encontre na ilha, ele pode passar a gostar do acepipe, mas a intenção primária é se manter vivo até ser resgatado.

Então, caríssimos, antes de mandar um globo de energia torrar o perispírito de um vampiro, façam algo para bloquear a sangria e observem se alguém muda seu comportamento. Porque o problema infelizmente é social e de saúde mental, é generalizado, são milhões de novos vampiros inconsciente pelo país, não dá simplesmente para bloquear todos eles.

Se protejam, vedem seus pontos de energia e fiquem atentos, porque esta situação ainda vai demorar uns bons anos para se resolver.

Uma visita real

Por Fernando Coelho

 As costas de Abidã doíam.. Seus pulsos doíam ainda mais. Mover repetidas vezes a corda de arco sobre o furador, aplicando pressão no alto da ferramente pontiaguda cobrava seu preço. O suor gotejava da sua testa e caía sobre o segmento curvado de madeira destinado a ser parte de um raio de roda de uma carroça. Mais difícil era encarar o fato de que ele ainda tinha quatro outras seções, nas quias precisava fazer furos para os raios. Seu  pai se curvava sobre o banco duro e tosco, aparando e arrumando as peças para que se encaixassem.
O ar denso e poeirento da pequena marcenaria piorava as coisas, mas Abidã não se queixou. Essa era a sua vida. Seu pai era carpinteiro, assim como seu avô. Sua vida seria cercada por madeira e trabalho duro. No entanto, o trabalho na marcenaria era melhor que o trabalho que eles haviam feito na semana anterior. Por três dias, ele e seu pai tinham colocado vigas de telhado sobre as paredes de pedra de uma nova residencia. O trabalho ao ar livre era muitas vezes mais agradável. Contudo, ao meio-dia, o sol minava suas forças. Ele não tinha ideia de como seu pai era capaz de continuar trabalhando.
 Abidã respirou fundo e soprou a serragem liberada pelo furo feito. Em seguida, percebeu os sons de sandálias que se arrastavam sobre os degraus de pedra da porta de entrada, como se fosse a chegada de diversas pessoas. Era muito cedo para a refeição do meio-dia. Sua mãe não traria comida fora de hora.
 Abidã virou-se, ainda segurando as ferramentas nas mãos.
 O rei Salomão estava parado à porta.
 "Majestade", disse o pai de Abidã, e fez uma leve reverência.
 Salomão sorriu, entrou na marcenaria cheia de sujeira e abraçou seu amigo. "Faz muito tempo, Zera."
 Zera retribuiu o abraço. "Faz, sim, Majestade. As horas rapidamente se transforma em meses."
 Abidã sentiu um calafrio. O rei estava em sua humilde marcenaria, uma simples oficina de pedra e barro, com um telhado esburacado. Era assim com todos os carpinteiros, cujos dias se gastavam no trabalho para os outros, deixando-lhes pouco tempo para cuidar das próprias casas e locais de trabalho.
 "Abidã", Salomão exclamou. A voz do rei preencheu todo o espaço.
 "Majestade" Abidã largou as ferramentas e se aproximou. "Não sabia que o senhor estava vindo." Ele se sentiu constrangido por causa de suas roupas sujas e manchadas de suor.
 "Você foi ao palácio tantas vezes. Achei justo vir até aqui. Além disso, não via seu pai há muito tempo.  Receio ter me comportado de modo inadequado e desprezado meu amigo."
 "Não, Majestade, Zera afirmou. "O senhor fez mais por mim do que um homem da minha posição tem  o direito de pedir. Seu trabalho com Abidã foi fora do comum. Nas últimas semanas, ele insiste em acordas antes de mim e vem para a oficina muito cedo. Fica também até mais tarde, muito depois que os outros da área se retiraram."
 "É verdade, Abidã?"
 "Sim, Majestade. Estou procurando ser diligente como o senhor ensinou."
 O rei concordou com um gesto de cabeça, mas Abidã percebeu nele uma certa tristeza. Salomão dirigiu a palavra para Zera: "Trouxe comida e bebida para compartilhar uma refeição com a sua família."
 " O senhor é muito generoso, Majestade."
 Salomão sorriu. "Também trouxe o suficiente para seus vizinhos. Você pode reservar seu tempo para banquetear conosco?"
 "Naturalmente, Majestade." Zera abriu um grande sorriso. "O senhor honra minha casa e minha família."
 "O prazer é meu, meu amigo. Você pode apresentar sua casa para meus criados? Eles cuidarão de tudo."
 "Sim, Majestade." Zera saiu da marcenaria rapidamente.
 "E você, Abidã, vai se juntar a nós?"
 Abidã ficou confuso. "ainda não terminei meu trabalho , Majestade."
 "Estou vendo." O rei suspirou. "Tenho mais uma lição pra você, Abidã. Vejo que não cheguei muito cedo."
 "Não entendo."
 Salomão afastou algumas ferramentas do banquinho e se inclinou sobre ele.
 "Um lugar para você se sentar..."
 "Não, Majestade, eu estou bem."
 "O que esta envergonhando você, Abidã?" , perguntou Salomão, sorrindo.
 "A sujeira da nossa marcenaria, Majestade. O senhor merece coisa muito melhor. Se soubesse que o senhos estava vindo, poderia ter arrumado a oficina."
 "Abidã, nunca sinta vergonha do seu trabalho ou do lugar onde você trabalha. Essa oficina não me ofende, admiro o trabalho que é feito aqui."
 "Obrigado...Muito obrigado, Majestade."
 "Eu prestei um desserviço a você, filho."
 "Como?  Ah, não, Majestade. O senhor dividiu sua sabedoria comigo. Sou uma pessoa melhor por causa disso."
 "A sabedoria vem em etapas. É verdade que você está trabalhando mais do que seu pai?"
 "Sim. Incentivei meu pai a me dar mais tarefas."
 Salomão assentiu com um movimento de cabeça. "Pense sobre este dito: "Não te esgotes buscando riquezas, tem a sabedoria de mostrar moderação." (Provérbios, 23:4)
 Abidã não precisou decifrar o significado. De todos os provérbios que Salomão compartilhara com ele, esse era o mair claro e o mais condenatório. No entanto, Abidã repetiu o provérbio diversas vezes.
 "Sua expressão me diz que você compreendeu o significado", afirmou Salomão.
 "Compreendi, Majestade."
 "Diga-me a verdade contida nele."
 Abidã tomou fôlego. "Significa que não é sábio buscar riquezas."
 "Não filho. Você está enganado. Não é errado o fato de buscar riquezas. "
 'Então, o que é errado, Majestade?"
 "Você deve descobrir, Abidã."
 Abidã removeu a serragem dos cotovelos e proferiu a ultima parte do provérbio: "... tem a sabedoria de mostrar a moderação. Moderação. Sabedoria de mostrar moderação...". Balançou a cabeça e, então, uma ideia lhe ocorreu. "Há um equilíbrio entre buscar riquezas e moderação."
 "O significado?", Salomão indagou, sorrindo.
 Abidã franziu as sobrancelhas. "Não faz sentido para mim, Majestade. Por que um homem teria moderação na busca de riquezas?"
 "Para viver, Abidã. Para viver."
 "Para viver?"
 "Conquistar riquezas é sábio; trocar a felicidade pelas riquezas é tolice"
 Salomão se pôs de pé e começou a andar com passos lentos. "Tudo tem um preço, Abidã, não é? CHegar cedo na oficina de seu pai exige que você pague com um descanso menor. Vejo que você e seu pai estão trabalhando em rodas de carroça. "
 "Sim", respondeu Abidã, com orgulho. "Temos muitas mais para fazer. É a maior quantidade de rodas de carroça que já fizemos para um único cliente. Eu consegui o cliente."
 "Você merece elogios Abidã. Isso mudou as coisas?"
 "Mudou. O dinheiro ajudará minha família e desenvolverá nosso negócio.'
 "Sua mãe gosta de rodas de carroça?"
 A pergunta pegou Abidã desprevenido. "Não, Majestade."
 "Ela gosta de você?"
 "Sim."
 "Ela trocaria você por rodas de carroça?"
 "Claro que não, Majestade", respondeu Abidã, se ajeitando.
 "Então não a troque por ganhos rápidos."
 As palavras afligiram Abidã. "Não estou..."
 "Você não está o quê, Abidã?"
 Abidã abaixou a cabeça;
 "Quando eu era jovem, Abidã, tinha o hábito de ser impaciente nas viagens. Sempre queria chegar ao destino. Levei algum tempo até aprender que a viagem é muitas vezes mais interessante que o destino. Você compreende?"
 Abidã respondeu afirmativamente com um movimento de cabeça. "Devo aprender a aproveitar a viagem e não só pensar no destino."
 "Exatamente, Abidã. Trabalhe duro. Conquiste suas riquezas, mas aprecia aqueles a seu redor. Aproveita a sua família. Os dias perdidos nunca podem ser recuperados. Desenvolva o negócio do seu pai e, no momento em que se tornar o seu negócio, desenvolva-o mais, mas saiba quando mostrar moderação. Aproveite o dia. Aproveite o trabalho. Aproveite a viagem. Escolha o contentamento para hoje, mas pense no futuro."
 "Sim, Majestade."
"Agora, volto a perguntar: você se juntará a nós para o banquete?"
 Abidã deu uma olhada nas suas ferramentas e contemplou a madeira em que estivera trabalhando. Voltaria ali amanhã, ele decidiu. O melhor trabalho que poderia fazer agora era passar o tempo com seu rei, sua família e seus vizinhos. "Sim, Majestade. Tomarei parte do banquete com o senhor."
 "Ótimo. Talvez eu lhe conte uma história sobre seu pai.'
 Abidã riu. "Tenho uma pergunta, Majestade."
 "Pergunte."
 "É verdade que o senhor tem mil esposas e concubinas?"
 "É verdade. A maioria são casamentos políticos."
 "Como é ter tantas mulheres?"
 "Ah, Abidã, você nem queira saber."


terça-feira, 20 de agosto de 2013

continuação da postagem "Verdadeiramente rico"

 Por Fernando Coelho.

 Para quem não leu o inicio da historia, basta clicar no link abaixo.
clique aqui.

 "Como você se sente depois de ter dividido uma refeição com um dos homens mais ricos de Jerusalém?" Salomão colocou as mãos atrás das costas e curvou um pouco a cabeça, como um homem entregue aos pensamentos.
 "Prezo cada minuto que tenho o privilégio de passar com o senhor, Majestade."
 "Não me referi à minha pessoa", disse o rei, balançando a cabeça.
 A mente de Abidã se atrapalhou com as palavras de Salomão."Sinto muito, Majestade, não compreendo. De quem o senhor está falando?"
"De Nemuel, é claro. Só havia três pessoas à mesa, Abidã."
 "Eu sei... Só achei... Nemuel é um homem rico?"
 "Um dos mais ricos que você vai conhecer em toda a sua vida." Salomão fez uma pausa e analisou a expressão de Abidã. "Você parece confuso."
 "Estou, Majestade. Quero dizer, a casa dele é bonita, mas não é o tipo de casa que os ricos constroem para morar. É só um pouco maior que a do meu pai, e nós não somos ricos."
 "Você mede a riqueza pelo tamanho da casa de um homem?"
 Abidã sentiu o chão se abrir: "Não, Majestade".
 "Então como alguém reconhece uma pessoa rica?"
 Abidã refletiu, retardando ao máximo a resposta.
 "Abidã, às vezes é melhor falar com franqueza em vez de procurar uma resposta que você acha que eu quero", disse Salomão.
 "Sim, Majestade. As pessoas ricas vestem roupas caras, moram em casas muito grandes, possuem coisas que as outras pessoas não podem ter."
 "É verdade que muitos fazem coo você diz. Nemuel, porém, é muito rico e não gasta a sua riqueza em uma casa grande e em roupas caras."
 "Mas por quê, Majestade? Se ele pode ter essas coisas, por que não as compra?
 Salomão ergueu a cabeça, respirou fundo e disse: "Há os que fingem ser ricos, porém nada têm. Há os que fingem ser pobres, mas são abastados" (Provérbios, 13:7). O rei não disse nada. Não havia necessidade. Abidã começara a lição antes de pegarem o caminho do palácio.
 Como sempre, Abidã recitou as palavras diversas vezes, para memorizá-las. "Nemuel finge ser pobre, mas é rico?"
 "Exato, Abidã. Como você disse, a casa dele é maior que a sua. Ele mora em uma das melhores partes da cidade, perto do Templo e de outros edifícios públicos. Ele pode ter muito mais, mas preferiu o estilo de vida que você viu."
 "Majestade, posso fazer uma pergunta?"
 "Por favor, faça."
 "Se o seu amigo é rico, mas trabalhou na corte do seu pai, então como ele conseguiu  a sua riqueza? Ele herdou o dinheiro?"
 "Não, e eu o pouparei da preocupação de perguntar. Eu não dei riqueza a ele."
 "Não entendo, Majestade."
 "Poucas pessoas entendem, Abidã. Nemuel passou a vida cuidando do seu dinheiro. Ele pode ter uma casa mais cara, mas a que tem satisfaz as necessidades dele e da sua família. Ele pode comprar comidas mais refinadas, mas a comida simples o manteve saciado e bem. O dinheiro que não gastou, Nemuel poupou para seu futuro. Abidã, você conhece muitos da idade de Nemuel que vivem como ele?"
 Abidã recorreu à sua memória. "Não, Majestade. A maioria dos homens trabalha até morrer ou até não conseguir mais. Se eles não são capazes de trabalhar, então suas famílias os sustentam."
 "Nemuel não trabalha mais e cuida de si e da sua mulher. Ele pode fazer isso porque achou melhor gastar somente o que precisava gasta, e não o que podia gastar. Você entende?"
 "Estou tentando entender, Majestade. Nemuel vive bem porque não foi negligente com o seu dinheiro. Ele pensou no futuro e não no momento."
 "Você se expressou muito bem, Abidã. Agora, qual é a lição para você?"
 "Devo gastar o dinheiro nas minhas necessidades e não nas minhas vontades. Ao longo do tempo, juntarei dinheiro suficiente para futuras necessidades."
 "Exatamente."
 "Mas, Majestade..." Abidã não foi capaz de fazer a pergunta.
 "Não escutei todas as suas palavras."
 "Não é nada, Majestade. Minha pergunta é imprópria."
  "Você que saber por que, se minhas palavras são sábias, eu moro em um grande palácio, uso roupas tão finas, tenho tantos criados e vivo no luxo. Essa é a sua pergunta?"
 "Sim, Majestade", respondeu Abidã, abaixando a cabeça.
 "Há muitos motivos. Primeiro, minha riqueza cresceu tanto que não consigo gastá-la toda. Será transmitida aos meus herdeiros e ao reino após a minha morte. Segundo, sou o rei de toda a nação. Minha influência se estende do Egito, no sul, até a grande rio Eufrates. Represento não somente a mim mesmo, mas a todo o reino. Lido com reis de muitos países. É importante que eles me vejam como uma pessoa de poder, força, riqueza e sabedoria."
 "Entendo."
 "Minha situação é única. O que Nemuel fez, qualquer um pode fazer."
 Abidã concordou com um gesto de cabeça. "Um homem finge ser rico, porém nada tem; outro finge ser pobre, mas é abastado." Ele refletiu a respeito das palavras mais um pouco. "há aqueles que parecem ricos, mas na realidade são pobres. Há aqueles que os outros julgam ser pobres, mas na realidade são ricos."
 "Sim, Abidã. Nos dois casos, o rico e o pobre fizeram uma escolha. Você enfrentará a mesma escolha."
 "Farei a escolha correta, Majestade."
 "Tenho certeza que sim."


segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Verdadeiramente Rico

Por Fernando Coelho.

 Abidã nunca tinha andado em um carro antes e achou a experiência empolgante. Além disso, também nunca tinha visto muitos carros na sua vida. Seu pai explicou que esses carros eram mais apropriados para andar em terrenos planos e não nas áreas montanhosas em torno de Jerusalém. No entanto, não era segredo que Salomão juntara 1.400 carros e os cavalos correspondentes para puxá-los. Muitos estavam distribuídos nas cidades dos carros.
 O movimento do carro fazia Abidã sentir-se como se estivesse voando baixo sobre o chão. O condutor conduzia os cavalos lentamente pelas ruas, atento aos pedestres e aos asnos escarranchados. Mas Abidã achava que nunca tinha se movido tão rápido na vida.
 Os detalhes do carro fizeram Abidã constatar que tinham vindo do Egito e ele presumiu que os cavalos também tivessem vindo daquele país. Ele acenou para as pessoas na rua e sentiu certo orgulho de ser o centro da atenção da sua vizinhança. Doze crianças corriam atrás do carro. Ele compreendia o entusiasmo delas.
 O condutor era um homem alto e magro, com uma expressão grave. Ele mantinha o olhar à frente, gritando ocasionalmente: "Abram caminho. Abram caminho".
 "Aonde estamos indo?", perguntou Abidã.
 "Você verá."
 Abidã sorriu. Tinha se acostumado com os criados pouco loquazes do rei.
 "Será uma viagem longa?"
 "Não, não será."
 Abidã desistiu de questionar o condutor e se permitiu aproveitar cada momento de passeio. O céu estava sem nuvens, mas a fumaça dos fogareiros a lenha tingia o ar e carregava do pão e de outros alimentos.
 Eles se moviam da parte norte à parte sul da cidade, em direção ao palácio. Abidã supôs que Salomão tinha enviado o carro como gesto de cortesia, para que ele não precisasse atravessar a pequena cidade a pé, como sempre tinha feito anteriormente. Essa suposição se dissipou quando o conduto desviou os cavalos do caminho principal e foi para uma rua lateral. Ali, as casas eram apenas um pouco maiores que a residência térrea que abrigava as cinco pessoas da família de Abidã.
 O condutor parou na frente de uma casa de aparência simples, com típico pátio dianteiro. "O rei o espera dentro da casa."
 Abidã não se moveu. "Nosso rei está nessa casa?"
 "Sim. Não o deixe esperando."
Abidã desceu e em seguida o carro se afastou. No pátio, dois homens corpulentos estavam postados, cada um com uma espada ao seu lado. Guardas, pensou Abidã.
 Ele abriu o portão simples do muro e entrou no pátio. Deu alguns passos até o homem mais próximo. "Sou Abidã, filho de Zera. Estou aqui para um encontro com o rei." Sua voz tremia enquanto ele permanecia na grande sombra do homem.
 "Ali dentro", afirmou o guarda, apontando para a porta da casa. Abidã respirou fundo e se encaminhou para a porta, que permanecia aberta- sem dúvida, para deixar entrar a brisa matutina. Ele entrou na casa. Assim como a maioria das casa de Jerusalém, o interior estava dividido em recintos funcionais: uma área para dormir, uma área para preparação da comida e uma área de estar. O rei Salomão se reclinava diante de uma mesa longa e aplainada, apoiando-se sobre o braço direito e pegando comida das tielas com a mão esquerda. Um velho, de cabelos brancos e com expressão cansada, estava sentado em um banco, do lado oposto do rei. Abidã supôs que era o dono da casa.
 Salomão levantou os olhos. "Abidã, vejo que você chegou com segurança. Gostou do passeio até aqui?"
 "Sim, Majestade. Que o senhor tenha uma vida longa. O senhor prestou um grande favor enviando o carro para me buscar."
 "De modo nenhum, Abidã. Foi mais fácil do que enviar um mensageiro com instruções. Além disso, alguém da sua idade sempre gosta dessas coisas."
 "Espero que algum dia eu possa ser dono de um belo carro."
 Salomão inclinou a cabeça. "É mesmo?" O rei observou o velho e se mostrou espantado. O velho sorriu, mas permaneceu em silêncio. "Bem, por enquanto, venha e se junte a nós. Nemuel nos pôs a mesa."
 Abidã se dirigiu ao outro banco e se juntou aos dois em volta da mesa. Uma tigela de tâmaras, peixe seco e diversas fatias de pão estavam sobre a mesa. Nemuel se aprumou e verteu água misturada com vinho no copo de Abidã. O menino agradeceu.
 "Esse é o garoto de quem você me falou?", disse Nemuel. "Ele parece inteligente."
 Salomão sorriu. "Ele parece confuso", disse para Nemuel. Então, dirigiu a palavra a Abidã: "Você esta confuso, filho?"
 "Sim, Majestade. Achei que seria levado ao seu palácio."
 "Mesmo reis devem deixar os limites da sua cada de vez em quando. Quis visitar meu amigo em seu palácio."
 Abidã reprimiu o desejo de rir. Sem dúvida, a casa era maior que a sua e ele percebeu que tinha diversas coisas finas, mas não era um palácio.
 "Estou honrado de estar aqui."
 "Ele também é educado", afirmou Nemuel, com um sorriso. Abidã pôde perceber que faltavam diversos dentes na boca do velho. Nada incomum em um homem daquela idade.
 "Quando jovem, Nemuel serviu na corte de meu pai e forneceu conselhos de grande sabedoria. Conheci-o quando eu tinha mais ou menos a sua idade. Abidã. Viramos amigos. Depois que me tornei rei, Nemuel me serviu durante muitos anos."
 "Mas não mais?", perguntou Abidã.
 "Ele decidiu descansar. De vez em quando, faço uma visita para conversar e me aconselhar."
 Abidã pegou uma tâmara e a mordeu. Observou Nemuel por um instante e, em seguida, observou o rei. Abidã já tinha suficiente experiência com o rei para saber que Salomão muitas vezes começava a lição antes de ele perceber.
 "Servir ao rei deve ter sido uma honra", afirmou Abidã.
 "Foi. Me orgulho do trabalho que realizei", revelou Nemuel.
 A conversa mudou para as recordações de Nemuel sobre o pai de Salomão, o rei Davi, e a intriga constante que o cercou. Abidã falou pouco, esperando o momento em que o rei o colocaria em situação difícil com alguma pergunta. O tempo passou e, finalmente, Salomão se levantou do banco e se desédoi de Nemuel. Abidã seguiu o rei, ainda confuso a respeito do motivo pelo qual fora convidado para se juntar a eles em torno da mesa.
 "Vamos voltar a pé para o palácio", disse Salomão.
 "A pé?"
 "Gosto de andar e você ainda é muito jovem. Não vai nem sentir o esforço."
"Sim, Majestade. É claro."
 Quando Salomão e Abidã deixaram o pátio e pegaram a direção norte, os dois guardas passaram a segui-los de perto. Dois outros guardas, homens que Abidã não vira ao chegar, caminhavam dez passos à frente. O carro, com o condutor seguia atrás de todos.


(continua o final desse mesmo texto amanhã.)

sábado, 17 de agosto de 2013

REAÇÃO DOS LEITORES NO LANÇAMENTO DE UMA GUERRA DE LUZ E SOMBRAS EM SP

Gente, o lançamento de Uma Guerra de Luz e Sombras em SP foi MUITO LEGAL!!! Agradeço de coração a todos que saíram nesse frio danado (como São Paulo consegue ser mais frio que a Irlanda?!) para vir me dar um abraço e levar seu livro pra casa! Foi muito legal ver a energia do pessoal, o interesse em já ir lendo o livro na fila dos autógrafos e o carinho dos meus alunos-amigos que foram os principais culpados por esse lançamento! Eles montaram o coquetel temático com pratos deliciosos, bebidas mágicas, vinhos, sucos, decoraram a mesa e todo mundo veio de preto e branco. No final, ainda encenaram várias fotos com uma guerra de luz e sombras, da galera do Alto com a galera do Umbral, mas tudo com muito bom humor! Postarei as fotos a partir de segunda, agora tô com muito soninho e amanhã ainda tem aula pra dar, então fique com essa foto aí da galera lendo o livro...


quarta-feira, 14 de agosto de 2013

O Presente

 Por Fernando Coelho

Lobonaltas desculpa pelo atraso das matérias, tive uns problemas com a internet essa semana mas já esta tudo resolvido. Continuaremos nossas matérias com o Rei Salomão.

 Abidã avançava pelo caminho que levava ao palácio de Salomão. O céu estava sem nuvens e uma brisa cálida soprava em Jerusalém. O dia fiaria quente muito antes que o sol atingisse o zênite. O verão se aproximava.
  "Uma esmola. Uma esmola para um pobre." Um homem magro, vestindo um manto muito sujo, estava sentado numa encruzilhada, com a mão estendida, tremendo como uma folha seca em árvore moribunda. "Menino, ajude um velho. Uma esmola para um pobre."
 Abidã expressou reprovação e mudou de direção, evitando o encontro e se recusando a encarar o homem.
 Abidã sentia-se alegre. Estava tirando proveito do tempo passado com o rei e o rei também parecia gostar da presença de Abidã. Ser orientado pelo rei era uma honra que já tinha elevado o status de Abidã entre os seus amigos.
 Ele diminuiu o passo quando viu uma mulher que segurava um bebê e tentava juntar um fardo de linho. Não era incomum ver mulheres com fardos de grão ou linho equilibrados sobre a cabeça enquanto se deslocavam entre o mercado e a casa em que moravam. Outras carregavam da mesma forma a comida ou a água do dia. Essa mulher parecia cansada da vida, embora tivesse acabado de partejar outro sopro. Ela mudou o bebê de braço, ajoelhou-se no chão endurecido e fez o melhor possível para reunir o que tinha restado do fardo de linho antes de ser espalhado pelo vento longe do seu alcance. Abidã não parou para ajudar. Ele não queria chegar atrasado a seu encontro com o rei.
 Abidã alcançou o portão e ficou surpreso ao ser recebido por um criado diferente: um jovem mais ou menos da sua idade, com a pele muito mais escura que a sua e olhos cheio de vida. Alguns momentos depois, Abidã ficou sozinho no vestíbulo que dava acesso a um grande salão. Inicialmente, os minutos passaram depressa; depois, lentamente, como se o tempo tivesse parado.
 Ele se convenceu de que o rei devia estar ocupado com questões muito importantes, assuntos do país, problemas relativos ao Templo ou alguma outra providência urgente.
 Abidã esperava. Examinou o piso, as paredes, o teto, o reboco. Escutava vozes, mas a grande estrutura parecia desprovida de vida.
 Teria ele vindo no dia errado? Teria sido cancelado o encontro? Conforme o tempo passava, ele ficava mais atormentado. "O que fiz para ofender o rei?", ele murmurava para o espaço vazio.
 Perdeu a noção do tempo. Não sabia se estava ali fazia alguns minutos ou havia mais de uma hora. Devia esperar? Devia procurar alguém em busca de resposta? Devia voltar para casa?
 Abidã decidiu esperar, mesmo que isso significasse fica ali até o pôr do sol. No mínimo, demonstraria o valor que dava aos encontros com o rei.
 O jovem criado reapareceu e, com um sinal, pediu que Abidã o seguisse. Abidã sentiu um alívio muito grande. Finalmente.
 Em vez de levá-lo ao pátio, o criado o conduziu à sala do trono. Abidã adentrou três passos no recinto parecido com uma caverna e se deteve. O rei estava ali, sentado em seu trono e fitando seriamente Abidã. perto do trono, e parados à esquerda do rei, estavam o velho mendigo e a mulher com a criança.
  O mendigo parecia diferente. Abidã dedicou um tempo a analisar-lhe a fisionomia e o que percebeu o arrepiou. O mendigo era o criado que recebia Abidã em todos os encontros com o rei. A mulher era uma estranha.
 "Aproxima-se", ordenou Salomão. Abidã não percebeu nenhum traço de bom humor no tom de voz do rei.
 Para Abidã, não foi nada fácil sair do lugar. Era como se três pares de olhos o encarassem, conspirando para repeli-lo. Pelo menos, a criança estava coberta e não era capaz de fazer contato visual.
  Abidã venceu a curta distância sentindo como se tivesse percorrido uma longa distância. Seus joelhos tremiam, seu estômago revirava e sua respiração estava ofegante. "É... é uma honra revê-lo, Majestade."
 "Verdade?" O tom da voz de Salomão era duro como madeira de lei.
Abidã permaneceu calado, incapaz de dar uma resposta.
 "Me diga onde você esta, Abidã."
 "Longa vida, Majestade. Estou diante de sua presença, na sala do trono."
 "Você já me viu aqui antes, não é verdade?"
 "Sim, Majestade." Os joelhos de Abidã vacilaram.
 "Qual é o meu trabalho aqui, filho de Zera?"
 Abidã engoliu em seco e disse: "O senhor julga e orienta os que estão em busca de sua sabedoria, Majestade."
 "É aqui que eu arbitro reclamações, não é verdade?"
 Abidã abaixou a cabeça, incapaz de encarar Salomão. "Sim, Majestade."
  Me diga Abidã, por que você acha que nos reunimos aqui nesta manhã?"
 Abidã não queria falar, mas convocou forças para se expressar. "Essas duas pessoas têm uma reclamação contra mim."
 "Sim." Salomão se recostou no trono. Parecia cansado. "Você conhece meu fiel criado. A mulher é filha dele; a criança seu neto."
 Abidã fechou os olhos. Tinha sido testado e falhara. "Eu o desapontei, Majestade. Peço desculpas."
 "Não sou eu quem merece seus pedidos de desculpas."
 "Compreendo." Abidã ergueu a cabeça, aprumou-se e voltou a atenção para o criado e sua filha. Pediu desculpas. Os dois aceitaram o pedido com um gesto de cabeça.
 O criado dirigiu a palavra a Salomão: "Com sua permissão, Majestade."
 Salomão se levantou do trono e caminhou até a mulher. Tirou a manta que cobria o rosto do bebê e sorriu. "É um menino muito bonito. Dará orgulho à sua família." O rei se virou para seu criado: "Podem ir. Vocês se saíram bem."
 Então, Abidã ficou sozinho diante de Salomão, sentindo muito medo e vergonha.
 O sorriso de Salomão desapareceu com a saída da mulher e do seu filho. O rei se encaminhou para os degraus de pedra que levavam ao trono, mas não subiu. Em vez disso, sentou-se em um dos degraus. Indicou um lugar perto dele. Abidã sentou  ali. Esperava pelas palavras duras que o re proferiria. Com toda certeza.
 Salomão respirou fundo, expirou e falou.
 "Há os que distribuem e, contudo, se engrandecem; quem retém o que seria justo dar, só alcança perdas. O generoso enriquecerá, pois o que atende aos outros também será atendido." (Provérbios, 11:24-25)
 Levou certo tempo para Abidã perceber que Salomão não o estava repreendendo. Na realidade, a voz do rei estava embargada de tristeza. O rei repetiu o provérbio. Diga-me o significado, Abidã."
 Como tinha se tornado seu costume, Abidã repetiu o provérbio e, em seguida, buscou uma interpretação. "Significa que eu não devia ter feito vista grossa para os necessitados."
 "E o que mais?"
 "E que o ato de dar pode ajudar um homem a prosperar", respondeu Abidã, murmurando as palavras.
 "Isso não parece justo para você?"
 "Parece estranho para mim, Majestade. Como uma pessoa pode distribuir dinheiro e ficar mais rica?"
 "Há riquezas do coração, Abidã, riquezas da alma. Ajudar os outros faz parte da Lei de Moisés. Moisés não recebeu os mandamentos de Deus para ajudar os próximos e os estrangeiros?"
 "Sim, Majestade."
 "Acumular dinheiro não torna um homem rico, torna-o, sim, mesquinho. Você sabe a diferença?"
 "Sei. Acredito que sei. Mas, Majestade, não tenho dinheiro. Somos uma família pobre. Não tinha nada para dar ao mendigo; quero dizer, ao seu criado."
 "Você não podia ter-lhe dado um instante de atenção? Não podia ter se dirigido a ele, dito que não tinha dinheiro e o abençoado em nome de Deus?"
 "Sim, poderia ter feito isso", afirmou Abidã, concordando com um gesto de cabeça. "Em vez disso, saí do meu caminho para evitá-lo."
 "E a mulher com a criança; ela precisava de dinheiro?"
 "Não, Majestade. Ela precisava de ajuda."
 "Mas você não ofereceu os poucos minutos que teria levado para ajudá-la a juntar seu linho e enfardá-la novamente."
 "Não quis me atrasar, Majestade."
 Salomão denotou um ar de reprovação. "Você não me honra fazendo algo errado para ser pontual. Eu teria preferido que e atrasasse e fosse justo a que chegasse na hora certa e fosse egoísta."
 "Majestade, há muitos pobres. Como posso ajudar todos eles?", perguntou Abidã, voltando a olhar para o chão.
 "É impossível para você fazer isso, mas você pode fazer alguma coisa. Você não cruzou com todas as pessoas pobres de Jerusalém. Você cruzou com duas almas. Escute, Abidã: se você não for capaz de dar o seu pouco, nunca será capaz de dar a sua abundância. Compreende?"
 "Acho que sim, Majestade."
 "Criar riquezas  e bom e correto, mas não será se você se recusar a usar algo do que tem em benefício dos outros. Sempre existirão pobres, mas essa verdade não significa que o sábio fecha os olhos a eles. Faça o que puder com o que você tem e a prosperidade vira atrás."
 "A riqueza é destinada aos generosos?"
 "Sim, Abidã. Bem dito."
 "Sinto muito por ter desapontado o senhor, Majestade."
 Salomão sorriu. "Você acha que foi injusto da minha parte testá-lo?"
 "Não tenho certeza", respondeu Abidã, balançando a cabeça.
 "Deixe-me fazer uma última pergunta: você vai se esquecer desta lição?'
 "Nunca, Majestade. Levarei esta lição para o meu túmulo."
 "Então, o constrangimento que você sente vale o preço."

sexta-feira, 9 de agosto de 2013

MINI BOOKS DE VOLTA!



por Eddie Van Feu
Eu uso muitos livros em meus rituais. Mas há livros que eu uso mais! Meus antigos minibooks estão caquéticos, de tanto uso! Agora, já posso substituir pelas novas edições! O Pequeno Livro das Grandes Orações sofreu uma revisão e mudei algumas orações, pois achei outras mais poderosas e raras, e troquei por algumas que faziam a mesma coisa que outras que já tinham no livro! O Proteção e Defesa é O BICHO! São ótimos pra se carregar pra tudo que é canto, pois cabem na bolsa e não pesam. E ótimos pra dar de presente, porque todo mundo precisa, né?

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Os Conselheiros do Rei

 Por Fernando Coelho.

 Abidã chegou cedo. Dessa vez ele foi apresentado ao pórtico. Embora já tivesse feito diversas visitas ao palácio, ele ainda se sentia perdido em meio a seu tamanho e complexidade. O palácio, como todos em Jerusalém sabiam, era composto por mais de um edifício. Quatro estruturas primárias constituíam a parte principal do palácio do rei. Abidã ainda tinha de conhecer os diversos quartos e áreas de serviço.
 "Para a sala do trono hoje?", Abidã perguntou ao criado que o recebia em cada chegada.
 "Não." O criado não disse mais nada, e Abidã acabou que não era sensato pressionar o homem.
 Diversos criados se deslocavam com intensidade serena. Homens vestidos com mantos caros circulavam. Abidã evitava o contato visual. O filho de um carpinteiro não tinha o direito de contemplar homens dessa importância.
  Abidã seguiu o criado a três passos de distância. Finalmente, eles alcançaram um muro exterior. Vãos de janela, cobertos com treliças de cedro, se alinhavam na partição. O criado abriu duas portas de madeira altas e grossas e Abidã se viu do lado de fora outra vez. O que ele viu diante de si tirou-lhe o fôlego.
 Na primeira vez que encontrou Salomão, o rei estava em um pequeno pátio, com bancos de pedra e uma fonte. Abidã acreditou que o pátio era uma das mais belas coisas que já tinha visto- até aquele instante.
 "O rei está no pórtico. Não se aproxime dele, a menos que ele o chame. Entendeu?"
 "Sim, entendi."
 O criado fez sinal para Abidã atravessar a soleira. O menino obedeceu. Em seguida, o criado fechou as portas. Abidã ficou sozinho, cercado por colunas de pedra muito altas, com vigas grossas de cedro transpondo a distância ente essas colunas. Em um lado havia um espelho de água raso, largo e longo. Diversos pássaros saciavam a sede na beira da água. Um pavão passeava como se reconhecesse tudo à vista. Um muro alto marcava o perímetro, construído com três camadas de pedras grandes e talhadas à mão e coberto por vigas grossas de cedro.
 Abidã começou a se deslocar lentamente pelo espaço aberto. Podia sentir a doçura do ar, perfumado pelas plantas em floração. Teve a impressão de estar entrando no Jardim do Éden.
 Entre as fileiras de colunas, pedras brancas niveladas e largas tinham sido colocadas, formando uma superfície plana para caminhadas.
 Abidã ergueu os olhos e contemplou o longo pórtico. Na extremidade havia uma estrutura coberta e, no seu centro, uma grande cadeira, como um trono, mas mais simples. Salomão estava sentado ali. Ao seus redor reuniam-se três homens: dois mais novos que o pai de Abidã e um que parecia mais velho.
 O menino avançou alguns passos até conseguir escutar as vozes, mas sem ser capaz de distinguir as palavras. O homem mais velho estava animado, apontando para os dois homens mais jovens. Em sua cadeira, Salomão inclinou-se para a frente, ouvindo atentamente o que se dizia.
 Abidã se deteve, não queria se aproximar sem ser chamado. A advertência do criado repercutia em seu ouvido. Mas ele se sentia confuso. Era esperado para se encontrar e não queria se atrasar, mas tampou queria interromper o rei. Decidiu postar-se no campo de visão do rei, mas sem fazer nenhum movimento para chamar a atenção de Salomão, longe da cena que se desenrolava diante dele. Abidã optou pela paciência.
 A cabeça de Salomão girava de um lado para o outro escutando os homens parados diante dele. Os dois mais jovens estavam à direita do rei; o mais velho à esquerda. Finalmente, o rei ergueu os olhos e percebeu a presença de Abidã. Levantou-se, falou alguma coisa para os três homens, fez um sinal para o lado e caminhou da área coberta para a arcada aberta. Não tinha dado três passos e criados surgiram com bandejas de comida e taças com bebida. Os três homens se serviram.
 "Fiz você esperar, Abidã?"
 "Muito pouco, Majestade. Pude ver que o senhor estava ocupado."
 Salomão deu uma risada. Foi a primeira vez que Abidã viu o rei fazer isso.
 "Sim, há muitas coisas que exige minha atenção."
 "Os homens que estavam com o senhor pareciam transtornados. O senhor estava julgando uma disputa entre eles?" Abidã fez uma pausa e logo acrescentou: "Se o senhor me permite perguntar".
 "Você é um bom observador, Abidã, e essa habilidade o ajudará muito."
 "Obrigado, Majestade."
 "Você também está errado."
 "Errado?"
 Salomão pôs a mão no ombro do garoto, orientando-o pelo caminho de pedra entre os pilares. "Eles estão em disputa, mas não como a que você viu dias atrás. Eles trabalham para mim."
 "Compreendo."
 "Ainda não, mas compreenderá." Salomão caminhou até o espelho de água e se sentou à beira dele. Abidã se juntou ao rei. "O que você notou em relação aos três homens?"
 "Um parece velho e dois são mais novos."
 "Parece velho?" Salomão voltou o olhar para o caminho de pedra e dirigiu a atenção para os homens. "Sim, ele parece velho por um motivo: ele é velho."
 "Não pretendi desrespeita-lo", disse Abidã.
 "Ele se sente orgulhoso da sua idade, como deveria se sentir. Seu nome é Jada e ele é um dos meus principais construtores. Você já ouviu falar do aqueduto que estou construindo?"
 "Sim, Majestade. Todo o reino sabe disso."
 "Jada, é o responsável pela sua construção. Os outros dois homens são seus assistentes."
 "Mas eles discutem com ele?"
 "Eles estão entusiasmados com o trabalho. O aqueduto permanecerá por longo tempo depois que todos nós tivermos seguido o caminho dos nossos pais."
  Abidã dirigiu os olhos para baixo. A ideia de um tempo após a morte do rei Salomão o entristeceu.
 "Enoque e Shobi têm uma nova ideia sobre como transpor  um pequeno vale. Eles querem mudar o curso do aqueduto. Jada acha que não é uma boa decisão. Eu concordei com Enoque e Shobi, mas Jada disse que estou errado."
 A revelação surpreendeu Abidã. "Esse homem disse que o senhor está errado?" O senhor é o homem mais sábio que já existiu."
 "Você acha que um homem sábio está sempre certo?"
 Abidã reconheceu a mudança de tom. A lição tinha começado. Após pensar um pouco, ele entendeu que a lição começara no momento em que havia chegado. "Sempre achei isso, Majestade."
 "Um homem sábio é um homem que escuta a sabedoria dos outros. Jada me deu bons conselhos ao longo dos anos."
 "Mas, Majestade, o senhor disse que concordou com a opinião dos outros dois homens."
 "Eu disse isso, Abidã, mas descobri algumas coisas. O que vou lhe dizer agora, direi como um segredo. Você não deve repetir as palavras. Posso confiar em você?"
 "Sim, Majestade."
 "A alteração do curso planejado do aqueduto afetaria as propriedades de diversas pessoas. Teríamos de comprar essas terras. As famílias de Enoque e Shobi se beneficiariam da compra de suas propriedades. Sem dúvida, parte do lucro iria para Enoque e Shobi."
 "Então eles ficariam ricos."
 "Exatamente."
 Abidã refletiu por um momento. "Eles o aconselharam a fazer algo que beneficiaria somente eles?"
 "Não somente. Há certa sabedoria na sugestão deles, mas a motivação de ambos não tem nada a ver com a construção do melhor aqueduto possível. Antes de descobrir o plano de Enoque e Shobi, acreditei que eles me ofereciam um conselho sábio. Então, Jada me contou. Qual é a lição que você tira disso?"
 "Nunca minta ao rei."
 Salomão voltou a dar uma risada. "Certo, mas sua resposta não é suficiente. Aprenda este provérbio: 'Por falta de conselhos se frustram propósitos, mas quando conselheiros são consultados, eles se tornam realidade'." (Provérbios, 15:22)
 Abidã deixou sua mente processar as palavras. "O homem sábio sabe que a sabedoria se encontra no conselho dos outros."
 "Você está ficando bom nisso, Abidã. Você tem razão, mas ainda falta algo. Lembre-se: Enoque e Shobi me aconselharam e o conselho deles, a principio pareceu muito consistente."
 "Mas o senhor descobriu que eles tinham algo a ganhar em virtude do conselho que deram."
 "Perfeitamente. Jada deu um bom conselho e sua motivação era o sucesso do nosso projeto e nada mais. Eu paguei muito bem a ele pelo seu trabalho. Ele não precisa me enganar."
 "Então, Majestade, o conselho é melhor quando vem de alguém que é sábio e não é ganancioso."
 "Certo. O homem sábio descobre em quem pode confiar e só então escuta o conselho." Salomão se ergueu. "Tenho de retornar."
 "Majestade, posso perguntar o que acontecerá com Enoque e Shobi?"
 "Não", respondeu o rei.
 Abidã sentiu como se  o olhar de Salomão pudesse atravessá-lo.


quinta-feira, 8 de agosto de 2013

O Bom negócio

Por Fernando Coelho

 Foi sua culpa. Ele deveria ter acordado mais cedo. Sua mãe o cutucou, usou de persuasão, até o ameaçou, mas Abidã não sentiu vontade de se levantar do seu colchão de palha. Seu irmão e sua irmã mais novos acordaram uma hora antes, fizeram o desjejum com peixe defumado, pão e tâmaras e, em seguida, partiram para seus afazeres. A ausência deles deixou a casa silenciosa, perfeita para mais alguns momentos de sono.
 Algo  fez cócegas em seu pé. Abidã deu um chute leve. Um segundo depois, alguém começou a puxar Abidã pelo pé em direção ao chão de pedra. Seu pai não disse uma palavra. As queixas do menino não surtiram efeito. Ao passar pela porta principal, Zera não soltou o filho, arrastando-o até o pequeno pátio situado na frente da casa. Como todas as residências da vizinhança, o pátio era o lugar onde a família preparava as refeições e comia. O cheiro de fumaça dos incontáveis fogareiros a lenha pairava no ar.
 Zera soltou o pé de Abidã, mas, antes de o filho conseguir se levantar, seu pai pegou um jarro de água e despejou o conteúdo no rosto do menino. Era melhor ele não reclamar. Em poucos minutos, Abidã tinha trocado de roupa e estava na oficina limpando o entulho da construção do dia anterior e afiando as ferramentas de corte. Ele tinha pressa. Ia se encontrar com o rei outra vez.
 Ele não teve tempo de fazer a refeição matinal e também não teve tempo de pedir desculpas por ser preguiçoso. Finalmente, seu pai disse sua primeira palavra da manhã: "Vai".
 Transpirando, Abidã corria pelos caminhos da cidade; tentava chegar ao palácio na hora. Censurava-se por ser tão indolente.
 A expressão do criado agora familiar denotava desaprovação. "Você está atrasado, garoto."
 "Sim. É minha culpa. Peço desculpas."
 "Guarde suas desculpas para o seu rei."
 Como anteriormente, o criado conduziu Abidã pelo imponente edifício até a sala do trono.  Na porta, Abidã sentiu um frio na espinha. Salomão estava sentado no trono e dois homens, com aproximadamente a idade do seu pai, estavam parados diante do rei. Abidã esperou na soleira da porta até o criado fazer a apresentação.
 Salomão virou a cabeça; seu olhar estava gélido. Apontou para Abidã, depois fez um sinal para ele entrar. Abidã não desperdiçou mais o tempo do rei.
 "Majestade, que  o senhor tenha uma vida longa. Peço desculpas pelo meu atraso."
 "Silêncio! Sente-se" O rei indicou o primeiro degrau do tablado do trono. Abidã praticamente tombou sobre o degrau, grato por o rei tê-lo autorizado a ficar. As perguntas preenchiam sua mente. Por que aqueles dois homens estavam ali? Abidã sabia que o rei atuava como juiz em relação aos litígios. A pergunta mais insistente era: por que ele, o pobre filho de um carpinteiro, tinha a permissão de estar presente?
 "Podemo começar", afirmou Salomão. "Você, Kenan, trouxe a queixa. Escutarei você em primeiro lugar."
 "Sim, majestade. Fui ultrajado, enganado, iludido e perdi todo o dinheiro que tinha para este homem". Ele apontou para o acusado, um homem alto e magro, com expressão serena. Kenan, contudo, tinha o rosto enrugado, como o dos homens que passam seus dias sob o sol inclemente. Sua barba era mais grisalha que a do outro homem, mas, aos olhos de Abidã, a suposta vítima era mais jovem que o acusado.
 "Isso não é verdade Majestade."
 Um olha duro de Salomão calou o acusado. O rei voltou sua atenção para Kenan. "Prossiga." O rei pareceu entediado.
 "Majestade, juiz justo de toda Israel, acredito que esse homem deve devolver tudo o que investi por causa dele."
 "Você entregou seu dinheiro para Aziel como investimento?"
 "Sim, Majestade. Ele prometeu que eu fiaria rico em pouco tempo, mas mentiu para mim, pegou meu dinheiro e não enriquei."
 Salomão suspirou prologadamente. "Qual é a sua resposta, Aziel?"
 "Majestade, sábia e verdadeira, o que Kenan diz é mentira. Dei-lhe a oportunidade de ganhar mais dinheiro do que ele jamais ganhou na sua vida miserável. No entanto, ele foi preguiçoso demais para pôr meu plano em pratica."
 "E qual é esse plano, Aziel?"
 "Tenho certeza de vossa Majestade vislumbrará a grande sabedoria desse ideia. Como o rei sabe, os peregrinos do norte do país e das regiões mais remotas do sul do reino vêm a Jerusalém nos períodos sagrados, principalmente na Pessach (a páscoa judaica) e no Sucot (a festa dos tabernáculos). Muitos vêm para celebrar e fazer sacrifícios no templo." Aziel sorriu. "Certo dia, observando os peregrinos no templo, ocorreu-me que muitos deles têm necessidade de animais de sacrifício. Como vossa Majestade sabe, diversos tipos de animais são utilizados nos sacrifícios e muito peregrinos sofrem perdas nas suas viagens, o que os força a encontrar novos cordeiros ou pombos."
 "E você vende esse animais para os peregrinos?". Perguntou Salomão.
 "Não diretamente, Majestade. Fiz acordos para comprar esses animais com desconto, e outros os vendem para mim. Eles comprar os animais de mim e, depois, os revendem para os peregrinos."
 "E você lucra com a revenda deles?"
 "Sim, Majestade."
 Salomão dirigiu a atenção para Kenan. "Você pode responder."
 "Ele não contou toda a história, Majestade. Aziel exigiu que eu comprasse mais do que aquilo que eu poderia vender. Ele também vendeu para a minha concorrência. Fiz algumas vendas, mas não o suficiente para recuperar meu investimento inicial. Aziel disse que sou preguiçoso, mas trabalhei do nascer do sol até o pôr do sol todos os dias."
 "Se o senhor me conce a palavra, Majestade, digo que sou um homem generoso. Minha mulher diz que dou até demais. Ofereci a Kenan e para todos que trabalham comigo a oportunidade de convocar pessoas para trabalhar com elas, e, se elas tivessem feito isso, dividiriam o lucro obtido."
 "Já escutei o suficiente", afirmou Salomão. "Kenan."
 "Sim, Majestade."
  "Você foi um tolo. Você celebrou um acordo que somente poderia resultar em prejuízo. Por que aceitou essa proposta?"
 Kenan deu a impressão de ter sido atingido por uma lança. "Aziel me prometeu um lucro rápido com pouco trabalho."
 "E você acreditou nisso?" Salomão balançou a cabeça. "Isso não lhe pareceu muito bom para ser verdade?"
 Kena abaixou a cabeça.
 Salomão Prosseguiu: "Quem lavra a sua terra terá muito pão, mas o que busca somente coisas vãs terá somente muita pobreza" (Provérbios, 28:19). O rei fez uma pausa. "Você compreendeu o provérbio, Kenan?"
 "Creio que sim, Majestade."
 "Abidã, explique o provérbio."
 O medo tomou conta do coração de Abidã. Ele se pôs de pé, surpreso por realizar tal façanha. "Sim, Majestade." Encarou Kenan e tentou não tremer. Um garoto de treze anos era considerado um homem, mas era impróprio para alguém com tão pouca idade dar uma lição de moral para um homem mais velho. 'O provérbio do rei significa que o homem sábio é aquele que trabalha duro em seu negócio e não acredita em promessas de riqueza de estranhos." Abidã dirigiu o olhar ao rei, para ver se tinha dado uma resposta adequada. O rei concordou com um gesto de cabeça.
 Outro provérbio Kenan: 'Será sábio o que com sábios caminha, mas se embrutece quem anda com os tolos'" (Provérbios, 13:20). Quando Salomão disse a palavra "Tolos" , virou-se na direção de Aziel. "O menino precisa explicar o provérbio?"
 Os dois homens responderam que não.
 Salomão se aprumou  em seu trono. "Kenan e Aziel, escutem minha sentença. Você, Kenan, foi guiado pela cobiça. Por causa disso, não vou pronunciar o veredicto em seu favor. O que você perdeu, perdeu. Possivelmente, agora você ganhou mais em sabedoria do que perdeu em dinheiro."
 Kenan abaixou a cabeça. "Sim, Majestade."
 Abidã percebeu que Aziel abrira um grande sorriso, que evaporou no momento em que Salomão dirigiu a palavra para ele. "Não quero mais ver a sua cara, Aziel, principalmente nesta sala. A cobiça de Kenan cegou sua visão e o fez perder a honra. Se você tiver um pouco de sabedoria, Aziel, voltará a pensar no que fez e no prejuízo que causou. Deixe-me... agora mesmo."
 Aziel esboçou pronunciar uma resposta, mas logo mudou de ideia. Abidã considerou essa uma decisão muito sensata. Aziel saiu da sala sem olhas para trás.
 "Kenan, você veio até mim em busca de justiça. Você não acredita que a recebeu. Provavelmente, um dia acreditará. Você pode ir."
 Após a saída de Kenan, Salomão se ergueu do trono elevado e desceu até o piso. "Alguma dúvida, Abidã?"
 "Não sou sábio o suficiente para compreender o que vi."
 "Você considera minha decisão equivocada. Você acha que eu deveria ter obrigado Aziel a devolver o dinheiro para Kenan. Estou certo?"
 "Como sempre, Majestade."
 "Quem obrigou Kenan a celebrar o acordo com Aziel?"
 "Ninguém, Majestade. Ele tomou a decisão por sua própria conta, mas Aziel fez falsas promessas."
 "As promessas não eram falsas", afirmou Salomão, balançando a cabeça. "Eram exageradas. Algo que Kenan deveria ter percebido. O plano de Aziel pareceu inteligente para você?"
 "Não, Majestade."
 "Ótimo. Você não aprendeu que um homem é responsável por suas próprias ações e seus próprios negócios?"
 "Sim, Majestade."
 "Não teria feito nenhum favor a Kenan obrigando Aziel a devolver o dinheiro. Provavelmente Kenan se tornará mais sábio, embora mais pobre."
 "Mas Aziel não continuará a fazer a mesma coisa para os outros?"
 "Acredito que sim, Abidã. Há muitas pessoas que procuram formas rápidas de enriquecer, o caminho ligeiro para a riqueza. No fim, isso custa para elas mais do que elas ganham. Aziel sofrerá por causa de suas ações. Homens como ele sempre sofrem. Conclua esta frase, Abidã: 'Se existisse um caminho fácil para a riqueza e segurança, então...'"
 Abidã refletiu por um momento. "... então todos seriam ricos e se sentiriam seguros."
 "Sim, Abidã. O caminho sábio não é o caminho fácil para a riqueza, mas é o caminho mais reto. Você compreende?"
 "Compreendo, Majestade."
 "Então vá ajudar seu pai."
  Abidã fez menção de se retirar.
 "Uma última coisa, fihlo. Não me faça esperar de novo."
 "Eu prometo, Majestade", afirmou Abidã com um sorriso.

quarta-feira, 7 de agosto de 2013

O Muro.

 Por Fernando Coelho

 Quando chegou ao palácio, Abidã foi recebido pelo mesmo criado. Novamente, o rapaz atravessou recintos decorados com imponentes painéis. A cada passo seu coração batia com mais força. A bondade do rei na primeira visita deixava Abidã menos temeroso, mas ele ainda se sentia inseguro.
 Na estrada da sala do trono, o criado se deteve. Abidã o imitou. No dia anterior a sala estava vazia, mas agora o rei, sentado no trono, cofiava sua barba. Poucos instantes depois Salomão falou, mas tão baixo que Abidã não conseguiu escutar. Os homens diante do rei fizeram um gesto de reverência com a cabeça.
 "O que está acontecendo?", perguntou Abidã ao criado.
 "O rei muitas vezes atua como juiz. Esses homens têm um litígio. O rei dará a palavra final. Sua sabedoria é conhecida em toda a parte."
  "E ele divide essa sabedoria com os outros?"
  "Não existiria sabedoria se ele não fizesse isso. Ele a divide com você. Ele a divide onde é necessário."
 Os homens deixaram a sala do trono e o criado conduziu Abidã ao seu interior. Bem no alto, perto do teto, a luz entrava pelas janelas, espalhando-se nas paredes. Salomão ficou de pé e fez um sinal para que Abidã se aproximasse.
 "É muito bom revê-lo, Abidã. Dormiu bem à noite?"
 "Pensei em tudo que vossa  Majestade me ensinou ontem."
 "E o que lhe pareceu? Correto?"
 "Sim, Majestade."
 Aparentemente satisfeito, Salomão desceu dos degraus entre o trono elevado e o chão de pedra.
 "Me acompanhe, Abidã. Quero lhe mostra algo", disse o rei.
 Abidã segui o rei a um passo de distância, na direção do pátio onde se encontraram no dia anterior, perto dos fundos do palácio. A curta distância, seis pedreiros cuidavam de um muro no jardim.
 "O que você está vendo?", perguntou Salomão.
 "Trabalhadores", afirmou Abidã. No entanto, ele logo percebeu que deveria ser mais específico e acrescentou: "Pedreiros".
 "O que eles estão fazendo?"
 "Trabalhando, Majestade."
 "Observe com mais atenção", afirmou Salomão, com um suspiro.
 Abidã analisou os homens por um instante. "Eles estão tirando as pedras do muro.'
 "Isso."
 "Não consigo entender, Majestade. O muro parece em boas condições e novo."
 "É novo", revelou Salomão. "Terminaram de contruí-lo somente há dez dias."
 "Então por que destruir o que acabou de ser construído?"
 "Foi bem construído, com solidez, mas não de acordo com o projeto. O homem que contratei para executar o serviço teve de viajar para a Galileia, enquanto seus ajudantes continuaram erguendo o muro. Ele deixou instruções claras sobre como isso deveria ser feito e a curva que deveria fazer. Na sua volta do norte, o muro estava pronto, mas não conforme as suas instruções."
 "Então o senhor ordenou que ele refizesse o trabalho?"
 " Não, eu não dei essa ordem."
 "Mas, majestade, ele está aqui com seus homens, trabalhando", afirmou Abidã, observando o rei.
 "Ele me procurou no dia do seu retorno da Galileia, desculpou-se e pediu minha permissão para remover a parte do muro em desacordo com o projeto e reconstruí-la como deveria ser. Claro que consenti."
 "Ele então se ofereceu para corrigir o erro?"
 "Ele assumiu a responsabilidade pelo seu trabalho. Ele se ofereceu para fazê-lo direito."
 "Não culpou seus empregados?"
 "Não, Abidã," respondeu Salomão, balançando a cabeça. "ele disse que o erro era dele."
 "Mas, Majestade, eles tava a muitos quilômetros de distância."
 "Realmente. O que isso ensina você?"
  "Ensina a contratar os serviços com sabedoria."
 "Sim, isso é sábio", afirmou Salomão, sorrindo. "Mas não é a lição de hoje. Tente de novo."
 "O pedreiro confiou nos seus homens para fazer o trabalho corretamente, mas eles não o fizeram, então..." Abidã perdeu o fio da meada. "Ele não culpou seus homens, mas se culpou."
 "Sim. Prossiga."
 "Não sei."
 "Acredito que você sabe. O que o mestre de obras e seus homens estão fazendo agora?"
 "Demolindo o muro e o reconstruindo."
 "Por quê?"
 "Porque foi construído errado...  E o mestre de obras acredita que sua responsabilidade é fazer o que disse que faria."
 "Muito bom, Abidã. A palavra 'responsabilidade' é a palavra-chave. O mestre de obras é um dos meus favoritos. Ele faz um trabalho excepcional, não porque eu exijo, mas porque ele assume a responsabilidade pelo seu serviço."
 "Então, para me tornar sábio, devo assumir minha responsabilidade em relação ao meu... trabalho?'
 "E às suas decisões, ao seu dinheiro, à sua família e a todo o resto."
"Entendo."
 Salomão cerrou os olhos e recitou: "Os pensamento do diligente o conduzem à abundância, enquanto o precipitado só acelera a vinda da pobreza."
 "Outro proverbio."
 "Sim. O que quer dizer?"
 "O trabalho duro conduz à riqueza."
 "Isso é verdade, mas não é a resposta correta. Eu não mencionei trabalho duro."
 Salomão repetiu o provérbio.
 "O senhor disse 'diligente'."
 "Um homem sábio é um homem diligente. Além de trabalhar duro, ele trabalha corretamente. Ele trabalha de acordo com um plano. Ele prevê o resultado final. Nosso mestre de obras tinha ideia de como o muro deveria ficar. Aquele era seu objetivo, mas os homens que ele deixou cuidando da obra não conseguiram materializar sua visão. Ele estava vendo isso por si mesmo. Qual é a lição que tiramos disso?"
 "Não confiar nos outros." Abidã viu o rei franzindo as sobrancelhas em desaprovação. "Ter um objetivo e trabalhar na sua direção."
 "Sim. E quem é responsável por esse objetivo?"
 "O mestre de obras."
 "E na sua vida?"
 A resposta ficou evidente para Abidã: "Eu sou o responsável. Para ser sábio e acumular riqueza, devo ser diligente; trabalhar duro com um propósito claro. Sou o responsável por aquilo que sonho, por aquilo que faço".
 "Você cresce em sabedoria, Abidã, mas cuidado. Você deve enxergar além do dinheiro. Quem ama o dinheiro nunca tem o suficiente; quem ama a riqueza nunca está satisfeito com o que ganha."
 "Acho que compreendi. O pedreiro faz esse trabalho a mais não por causa do dinheiro, mas porque é responsável pela aparência do muro e pelo lugar em que este está construindo."
 "O mestre de obras acredita que está perdendo dinheiro; o que , de fato, ele está, por enquanto. Mas eu recompensarei sua diligência. Agora. Abidã, diga-me em uma linha o que você aprendeu."
 "Só eu sou responsável pelos meus sonhos, pelo meu dinheiro e pelo o meu trabalho. Para ser sábio, devo ser diligente em todas essas coisas."
 "São duas linhas, Abidã, mas é aceitável." Salomão se virou e começou a retornar para o interior do palácio.  "Tenho agora de julgar um conflito entre duas mulheres."

terça-feira, 6 de agosto de 2013

O Primeiro Provérbio

 Por Fernando Coelho

"Abidã?"
"Sim, Majestade."
"Qual é o sentido deste provérbio: 'Prepara com antecedência teu trabalho e torna-o apropriado para ti, no campo; depois trata de construir tua casa'. (Provérbios, 24:27)?"
 O receio de Abidã era justamente esse. Ele setia um nó no estômago por estar tão próximo do rei, em seu pátio privado, e ainda ter de responder a uma pergunta do homem mais poderoso e rico do mundo.
 "Eu não sei. Não sou tão inteligente. Sinto muito se desaponto o senhor, Majestade."
 "Não ter uma resposta não é uma desgraça, filho. Pior é não procurá-la. Escute novamente o provérbio."
 Salomão voltou a recitar as palavras e esperou.
Abidã sentiu um frio na espinha e repetiu o provérbio: "Prepara com antecedência teu trabalho e torna-o apropriado para ti, no campo; depois, trata de construir tua casa."
 "Ótimo. Volte a repeti-lo", pediu o rei.
 Abidã repetiu o provérbio três vezes.
 "Agora você domina as palavras, mas não compreende o sentido. Diga-me o que o dito quer dizer."
 Por um momento, Abidã considerou a possibilidade de mentir, mas agir dessa maneira desonraria seu pai e certamente irritaria o rei.
 "Ensina que construir uma casa não é importante. O que mais importa é trabalhar duro."
 "Essa grandiosa morada, que você acabou de conhecer, você acha que não é importante?", perguntou Salomão, com certo olhar de desaprovação.
 "Não, é claro que não acho isso, Majestade. É uma obra grandiosa, a melhor que qualquer homem já construiu em todos os tempos."
 "Você tem razão."
 "Eu dei a resposta errada à vossa pergunta."
 "Nesse caso, você também tem razão", afirmou Salomão , agora sorrindo. "Tente novamente."
 Abidã refletiu por alguns instantes.
 "O provérbio ensina que, se  um homem não satisfizer sua necessidades imediatas, não poderá satisfazer suas necessidades futuras", disse o rapaz rompendo o silêncio.
 "Exatamente!", exclamou o rei. Então, Salomão deu um tapinha no ombro de Abidã, mas com força suficiente para o rapaz sentir uma pontada de dor percorrer seu corpo. "Mas há algo mais. Por que o campo primeiro e  a casa depois?"
 Abidã voltou a refletir.
 "Se um homem não plantar em seu campo, sua família não terá comida. Uma bela casa não terá serventia para ele."
 "Zera sentirá orgulho de você. Diga-lhe que gostei de você."
 "Obrigado, Majestade."
 "Mas há mais coisas a aprender. Você e seu pai cultivam a terra?"
 "não, Majestade", respondeu Abidã balançou a cabeça. "Meu pai é carpinteiro e me ensina sua arte." Ele tinha certeza de que o rei já sabia disso.
 "Então, o provérbio é inútil para você?"
 Salomão caminhou até uma fonte, sentou-se em um banco de pedra entalhado e à mão e fez um sinal para Abidã sentar-se ali também.
 Abidã desconfiou que a resposta a essa perguntar era "Não".
 "Os provérbios podem ter mais de um sentido", disse.
 "Muito bem, Abidã. E que sentido esse provérbio tem para você?"
 A mente de Abidã era testada mais  e mais a cada nova pergunta.
 "Eu...Eu estou desapontando o senhor, Majestade."
 "Não, Abidã", respondeu Salomão de modo carinhoso, e prosseguiu: "Você  não está me desapontando. Você está aqui para aprender. A sabedoria é alcançada por aqueles que a procuram e não por aqueles que a esperam. Você entende?"
 "Sim."
 "Então, diga-me o que o dito quer dizer para você."
 Abidã fez uma pausa prolongada e começou a responder lentamente.
"Se é sensato que um agricultor primeiro cuide do seu campo, para que sua família tenha comida, fazendo isso antes de construir sua casa, então... então... eu devo primeiro... realizar hoje o trabalho que contribuirá para um bom amanhã."
 Salomão riu com intensidade. Sua risada ecoou pelo pátio, fazendo as pombas levantarem voo.
 "Sim, Abidã, a sabedoria o encontrou e você a encontrou.!
 O rei se inclinou para a frente e mergulhou seu dedo na água da fonte.
 "Como esta água chegou ao meu dedo, Abidã?"
 "O senhor colocou o dedo na água."
 "E como a aguá chegou ali?"
 "imagino que alguém levou a água à fonte", respondeu Abidã, franzindo a sombrancelha.
 "E...?"
 "E levou a água porque a fonte foi construída, e a fonte foi construída porque o pátio foi construído, e o pátio foi construído porque o palácio..."
 "Acho que você achou  o caminho, Abidã. O homem sábio faz a primeira coisa  em primeiro lugar, a segunda coisa em segundo e assim por diante." "mas como eu sei qual é a primeira coisa?"
 "Você veio até aqui hoje, não?"
 "Sim, Majestade."
 "Qual foi o primeiro caminho que você pegou?"
 "Aquele na frente da minha casa."
 "Um homem e seu trabalho, e seu dinheiro, são a mesma coisa. Você começa onde está, mas também precisa ter um destino. Um homem trabalha hoje, mas seu pensamento está no amanhã."
  "Então, para alcançar a sabedoria, devo pensar no amanhã enquanto trabalho hoje."
  Salomão fechou os olhos e virou o rosto para o sol matinal.
 "Isso parece simples para você, Abidã?"
 "De certa maneira, Majestade, mas não tão simples assim."
 "De fato, a sabedoria é simples, mas a prática não é fácil." O rei abaixou o rosto e contemplou Abidã. "O  homem sábio traça um plano e trata de cumpri-lo."
 "Compreendo."
 Salomão e Abidã escutaram um pigarro educado atrás deles. Viraram-se O criado que conduzira Abidã ao pátio estava parado a uma curta distância, mas se mantinha em silêncio. Salomão assenti com um movimento de cabeça.
 "Preciso ir.  Verei você amanhã, Abidã. Mande minhas lembranças cordiais ao seu pai e à sua mãe."
 "Amanhã?"
 "Um homem não alcança a sabedoria em um único dia, Abidã", afirmou Salomão, pondo-se de pé.

segunda-feira, 5 de agosto de 2013

Abidã- Acordo com Salomão

Por Fernando Coelho

"Abidã tinha dois desejos no coração. Primeiro, ele queria esta bem longe dali. Segundo, queria que seus joelhos parassem de tremer. A caminhada que fizera, desde a sua casa na parte nordeste de Jerusalém, pareceu-lhe muito rápida, e sua chegada, muito antes da hora. Um criado o escoltou até o palácio e outro o introduziu na imponente construção. Se não fosse pelos acompanhantes, Abidã não teria tido a coragem de se deslocar de sua casa para aquele lugar.
O criado ao seu lado era alto, orgulhoso e seguro de si, como se tivesse nascido para essa função. Andava com a confiança que nasce de bravura. Circunspecto, o homem disse somente duas palavras: "Por aqui". A visão do interior do palácio tirou o folego de Abidã. Sob seus pés, as lajes de pedra maciça, talhadas à mão, formavam o piso. Vigas e tábuas de cedro aparentemente pairavam sobre a sua cabeça e as paredes eram cobertas por painéis de madeira entalhados pelos artesãos mais habilidosos.
Atravessaram um recinto parecido com uma caverna, com três filas de quinze colunas em cada uma. Eram colunas de pedra, frias e suaves ao toque. Inúmeros escudos de ouro estavam pendurados nas paredes.
 "Quinhentos", disse o criado.
"Quinhentos?"
"É a quantidade de escudos de ouro na parede. Todos os visitantes querem saber isso. Você estava querendo perguntar."
 Abidã pensou em negar, mas achou melhor não mentir para aquele homem.
"Qual é o nome deste lugar?", perguntou.
"A Casa da Floresta do Líbano"
"As colunas causam mesmo a impressão de uma floresta."
"Por isso o nome."
 O coração de Abidã disparou quando ele e o criado alcançaram um outro recinto. Ali, lambris de pedra cobriam um terço da altura da parede e a argamassa branca com pinturas de plantas e animais preenchia o espaço entre os lambris e o teto de cedro. Em uma lateral havia um trono sobre um tablado.
"Essa é... Quer dizer, esse é...?"
"Sim, respondeu o criado. É a sala do trono."
Atravessaram outros recintos imensos até alcançarem um pátio fechado, repleto de plantas cobertas com flores, árvores altas e fontes borbulhantes. Um homem, mais novo que o pai de Abidã e ainda não idoso, estava com o rosto voltado para o céu. Vestia um manto longo e seus cabelos escuros começavam a ficar grisalhos.
"Sua Majestade!", o criado exlcamou. "Abidã, filho de Zera, está aqui."
"Obrigado", agradeceu Salomão. "Pode se retirar", disse ao criado.
O homem logo saiu. Os joelhos de Abidã recomeçaram a tremer. Tentou falar, mas as palavras relutavam em sair. Seus pés aparentemente tinham criado raízes, prendendo-o onde estava.
"Aproxime-se, meu rapaz."
Com o coração na garganta, Abidã forçou-se a sair do lugar. A cada passo, suas sandálias ficavam mais pesadas. Mas atravessou o pátio e se aproximou do rei.
"Eu...", ele engasgou "Eu... estou aqui às suas ordens, Majestade."
 Salomão virou-se para encarar o rapaz.
"Você está assustado?"
"Muito."
"Quantos anos você tem?", perguntou Salomão, com voz suave e controlada..
"treze anos, Majestade."
"Então você já é um homem?"
"Sim...Sou."
"Você sabe por que está aqui?", o rei perguntou.
"Não, Majestade. O criado me falou do seu desejo de me ver. Isso é tudo o que sei."
"Muito bem. E como está seu pai, Zera?"
 "Está bem. as noites frias incomodam suas juntas."
Abidã se admirou de ter dito isso.
"São os caminhos da vida. Não vejo seu pai há anos."
"O senhor conhece meu pai?", surpreendeu-se Abidã.
"Sim. Ele me deu conselhos que me ajudaram muito quando eu era um jovem rei. Você sabe algo sobre conselhos?"
"Não, Majestade. Não sei."
 "Muito antes de você nascer,  prometi a seu pai que atenderia a qualquer pedido que me fizesse. Entre as diversas coisas que Zera poderia ter pedido estava essa, para que eu o ensinasse."
 "A mim?"
"Zera sabia que algum dia teria um filho, e queria o melhor para ele. Serei seu preceptor em alguns assuntos."
"Não sou digno do seu tempo, Majestade", disse Abidã, abaixando a cabeça.
 "Veremos."
"O que vou aprender?"
 "Você viu meu palácio?"
"Sim", respondeu Abidã, assentindo com a cabeça. "Nunca vi nada tão belo... A não ser o Templo de Jerusalém, é claro... que o senhor construiu."
 "Levei sete anos para construir o Templo e treze para construir este palácio. Aprendi muito em meus anos e Deus me concedeu grande sabedoria. Dividirei algo dela com você."
"Afirmam, Majestade, que o senhor sabe mais de três mil provérbios e ditos."
 "É verdade, e dividirei alguns com você, mas você deve prometer escutar e prestar atenção nas minhas palavras. Você vai fazer isso?"
 "Sim , Majestade."
 Então, vamos começar com as lições..."

Continua na próxima matéria.
















domingo, 4 de agosto de 2013

Uma viagem das sombras à luz com o Ouro e a Prata de Salomão



Por Michel Shahin e Fernando Coelho


Esta é a primeira matéria de uma coletânea que estamos fazendo sobre os rituais, lendas e sabedoria das épocas mais remotas. Ao resgatarmos estes conhecimentos, estamos resgatando muito mais que história, conhecimento e cultura. Estamos resgatando parte da memória de nossos antepassados e o caminho que trilhamos para chegar aos dias atuais. O desenvolvimento da magia como base para o nosso desenvolvimento. Se não sabemos de onde viemos como saberemos para onde vamos?
 Falaremos sobre as riquezas que provém do centro da terra, e ao falar sobre riquezas, quem mais rico do um Rei? E qual Rei mais rico do que Rei Salomão?
 Quem é o Rei Salomão? Salomão é um personagem citado na Bíblia (mencionado, sobretudo, no Livro dos Reis e nos Provérbios de Salomão), filho de Davi com Betesabá, que teria se tornado o terceiro rei de Israel, governando durante cerca de quarenta anos (a aproximadamente 3 mil anos atrás). O nome Salomão ou Shlomô (em hebraico:שלמה), deriva da palavra Shalom, que significa "paz" e tem o significado de "Pacifico". Também chamado de Jedidias (em árabe سليمان Sulayman) pelo profeta Natã, nome que em hebraico significa "Amado de Jeová". (II Samuel 12:24, 25).
 Infelizmente poucos lêem e compreende seus conhecimentos, então deixaremos o conhecimento dele mais fácil para você.
 "Do ponto de vista místico, Salomão foi um enviado divino que veio para jogar luz na escuridão que avançava. Ele teria vindo para combater as forças obscuras que lutavam para que o povo permanecesse na ignorância. Talvez por isso ele seja exemplo em todas as vertentes que envolva fé e magia. É através dele que compreendemos, finalmente, que a sabedoria é a chave de toda a felicidade, pois sem ela,nenhuma das coisas que almejamos é possível..." Retirado do "O Livro de Ouro da Prosperidade e Boa Sorte" de Eddie Van Feu.
No decorrer da semana vamos contar umas historias de Abidã e o rei Salomão, ficou curioso? Confira a postagem de amanhã.









sábado, 3 de agosto de 2013

É MAIS SEGURO VIAJAR EM GRUPO!

É muito mais seguro e divertido viajar em grupo, ainda mais quando vamos para lugares assombrados e encantados! Venha com a gente para a Irlanda e Inglaterra celta!!!
Se você quer saber mais sobre a viagem, mande-me um e-mail: eddie@eddievanfeu.com
Ou entre em contato direto com a Diva!

DIVA TOUR

• PABX : (11) 3966.21.55
• direto : (11) 3857.82.01
• celular : (11) 9-9913.95.80 - Diva
• celular : (11) 9-9567.77.30 - Cristina
• Skype : diva tour ou diva dias
• e-mail : divatur@uol.com.br


quinta-feira, 1 de agosto de 2013

ANO DIFÍCIL, VIDA DURA, CUIDADOS ESPECIAIS

por Eddie Van Feu

Num ano de Saturno, com Saturno em Escorpião (para saber mais, leia as revistas Previsões 2013 que lancei pela Escala), as coisas estão mais difíceis do que o normal. E as lições estão mais duras! Eu sei que é difícil ouvir isso na hora em que a dor e o medo imperam, mas é preciso ter paciência. E calma! Entrar em pânico não vai adiantar nada! Então, precisamos ter foco no que o Universo está tentando nos dizer, no que ainda não conseguimos aprender. Enquanto isso, é bom se cuidar. Energeticamente, preserve-se. Evite locais ou pessoas carregadas demais, porque as pessoas mais sensíveis vão levara a pior. Uma dica é o uso de talismãs, seja no carro, no trabalho, em casa ou em você mesmo. Há vários tipos de talismãs (vou ensinar vários nas próximas aulas de Rio e SP de agosto), mas cristais são ótimos! A turmalina negra, por exemplo, é excelente para proteção, agindo como um para-raios de energias negativas. Devidamente encantada e preparada, a turmalina negra pode oferecer proteção de emissões nocivas dos equipamentos eletrônicos, de ataques psíquicos e até de feitiços e maldições nas vidas presentes e passadas. 

Encantei esse colar para proteção! Adorei o fato dele usar linha ao invés de nylon, pois facilita o encanto. 


Esse colar aí da foto é de turmalina negra e não usa nylon (usa linha), o que facilita o encanto. Eu o encantei para proteger a pessoa que o usar de toda energia negativa, dessa dimensão ou de outra, seja inveja, raiva, rancor ou feitiços. Pra quem quiser, ele está disponível para venda (R$50,00 mais o frete, pelo alcateia@alcateia.com). Como o segundo semestre promete, ainda estou mandando os talismãs de proteção de graça pra qualquer compra no Portal das Luzes, para quem for na aula e para quem eu encontrar. Vamos nos cuidar, galera!!!