Por Fernando Coelho
"Abidã tinha dois desejos no coração. Primeiro, ele queria esta bem longe dali. Segundo, queria que seus joelhos parassem de tremer. A caminhada que fizera, desde a sua casa na parte nordeste de Jerusalém, pareceu-lhe muito rápida, e sua chegada, muito antes da hora. Um criado o escoltou até o palácio e outro o introduziu na imponente construção. Se não fosse pelos acompanhantes, Abidã não teria tido a coragem de se deslocar de sua casa para aquele lugar.
O criado ao seu lado era alto, orgulhoso e seguro de si, como se tivesse nascido para essa função. Andava com a confiança que nasce de bravura. Circunspecto, o homem disse somente duas palavras: "Por aqui". A visão do interior do palácio tirou o folego de Abidã. Sob seus pés, as lajes de pedra maciça, talhadas à mão, formavam o piso. Vigas e tábuas de cedro aparentemente pairavam sobre a sua cabeça e as paredes eram cobertas por painéis de madeira entalhados pelos artesãos mais habilidosos.
Atravessaram um recinto parecido com uma caverna, com três filas de quinze colunas em cada uma. Eram colunas de pedra, frias e suaves ao toque. Inúmeros escudos de ouro estavam pendurados nas paredes.
"Quinhentos", disse o criado.
"Quinhentos?"
"É a quantidade de escudos de ouro na parede. Todos os visitantes querem saber isso. Você estava querendo perguntar."
Abidã pensou em negar, mas achou melhor não mentir para aquele homem.
"Qual é o nome deste lugar?", perguntou.
"A Casa da Floresta do Líbano"
"As colunas causam mesmo a impressão de uma floresta."
"Por isso o nome."
O coração de Abidã disparou quando ele e o criado alcançaram um outro recinto. Ali, lambris de pedra cobriam um terço da altura da parede e a argamassa branca com pinturas de plantas e animais preenchia o espaço entre os lambris e o teto de cedro. Em uma lateral havia um trono sobre um tablado.
"Essa é... Quer dizer, esse é...?"
"Sim, respondeu o criado. É a sala do trono."
Atravessaram outros recintos imensos até alcançarem um pátio fechado, repleto de plantas cobertas com flores, árvores altas e fontes borbulhantes. Um homem, mais novo que o pai de Abidã e ainda não idoso, estava com o rosto voltado para o céu. Vestia um manto longo e seus cabelos escuros começavam a ficar grisalhos.
"Sua Majestade!", o criado exlcamou. "Abidã, filho de Zera, está aqui."
"Obrigado", agradeceu Salomão. "Pode se retirar", disse ao criado.
O homem logo saiu. Os joelhos de Abidã recomeçaram a tremer. Tentou falar, mas as palavras relutavam em sair. Seus pés aparentemente tinham criado raízes, prendendo-o onde estava.
"Aproxime-se, meu rapaz."
Com o coração na garganta, Abidã forçou-se a sair do lugar. A cada passo, suas sandálias ficavam mais pesadas. Mas atravessou o pátio e se aproximou do rei.
"Eu...", ele engasgou "Eu... estou aqui às suas ordens, Majestade."
Salomão virou-se para encarar o rapaz.
"Você está assustado?"
"Muito."
"Quantos anos você tem?", perguntou Salomão, com voz suave e controlada..
"treze anos, Majestade."
"Então você já é um homem?"
"Sim...Sou."
"Você sabe por que está aqui?", o rei perguntou.
"Não, Majestade. O criado me falou do seu desejo de me ver. Isso é tudo o que sei."
"Muito bem. E como está seu pai, Zera?"
"Está bem. as noites frias incomodam suas juntas."
Abidã se admirou de ter dito isso.
"São os caminhos da vida. Não vejo seu pai há anos."
"O senhor conhece meu pai?", surpreendeu-se Abidã.
"Sim. Ele me deu conselhos que me ajudaram muito quando eu era um jovem rei. Você sabe algo sobre conselhos?"
"Não, Majestade. Não sei."
"Muito antes de você nascer, prometi a seu pai que atenderia a qualquer pedido que me fizesse. Entre as diversas coisas que Zera poderia ter pedido estava essa, para que eu o ensinasse."
"A mim?"
"Zera sabia que algum dia teria um filho, e queria o melhor para ele. Serei seu preceptor em alguns assuntos."
"Não sou digno do seu tempo, Majestade", disse Abidã, abaixando a cabeça.
"Veremos."
"O que vou aprender?"
"Você viu meu palácio?"
"Sim", respondeu Abidã, assentindo com a cabeça. "Nunca vi nada tão belo... A não ser o Templo de Jerusalém, é claro... que o senhor construiu."
"Levei sete anos para construir o Templo e treze para construir este palácio. Aprendi muito em meus anos e Deus me concedeu grande sabedoria. Dividirei algo dela com você."
"Afirmam, Majestade, que o senhor sabe mais de três mil provérbios e ditos."
"É verdade, e dividirei alguns com você, mas você deve prometer escutar e prestar atenção nas minhas palavras. Você vai fazer isso?"
"Sim , Majestade."
Então, vamos começar com as lições..."
Continua na próxima matéria.
Cade as lições? Só amanhã é!? Realmente !!
ResponderExcluirGostei :)
Cade as lições? Só amanhã é!? Realmente !!
ResponderExcluirGostei :)