Existe algo de bastante original na série cinematográfica Harry Potter. Parte de sua originalidade foi herdada da própria série de livros. Ao amadurecer a história junto com seus personagens e, consequentemente, seu público, J.K. Howling garantiu uma fidelidade canina de seus leitores que aguardaram cada um dos sete livros da série como se fossem escrituras sagradas. Ao iniciar a produção dos filmes no auge do sucesso dos livros e assegurar a presença de todo seu elenco nos oito filmes produzidos, a Warner criou o que é provavelmente a mais bem sucedida (e sem dúvida a mais rentável) série cinematográfica de todos os tempos. Ao vermos o jovem elenco crescendo diante de nossos olhos, temos a mesma sensação de ver os personagens crescendo nos livros. Para os mais jovens, foi crescer junto com eles. Para os fãs mais velhos (e são muitos) foi como ver os primos ou filhos crescendo, aprendendo, ferindo-se, erguendo-se, vivendo.
Harry Potter e As Relíquias da Morte Parte 2 encerra esta série que rendeu mais de 7 bilhões de dólares nos cinemas de todo o mundo, sem contar a monstruosa renda de vendas de DVD e Bluray, direitos para TV e downloads pagos. A ideia de lançar o sétimo e último livro em duas partes foi mais do que acertada para dar conta das substanciais 700 páginas escritas por Rowling. Muitas críticas foram feitas ao primeiro filme, de que era tedioso, longo e nada de relevante acontecia. Mas podiam ser percebidos e bem vindos um foco mais detalhado e atento nos três personagens principais, no clima brilhantemente realista dado pela câmera e uma sensação de real perigo, vinda da inteligência de uma direção que sabia que, para realizar um filme sombrio, não é suficiente reduzir a luz e a paleta de cores. O que muita gente gostou é que esse último filme vai direto ao ponto. E nem poderia deixar de ser. A proposta dele é justamente essa. Os Horcruxes começam a ser localizados e precisam ser destruídos. Valdemort, ressuscitado, inicia seu ataque a Hogwarts. Não tem mais fuga, o couro vai comer.
Um dos aspectos mais interessantes deste último filme foi a oportunidade para Alan Rickman brilhar novamente como Snape. E, mesmo que em microscópicas participações, revemos quase todo o soberbo elenco que brilhou na série, um verdadeiro quem-é-quem da nata das artes dramáticas inglesas.
[DISCRETO SPOILER ADIANTE]
Talvez o filme não tenha sido bem claro em como uma determinada reviravolta da história acontece exatamente (fica uma coisa meio “ahááá! Te enganei”). Porém, o mais brilhante deste último filme foi o tom do final. Não houve uma apoteótica comemoração da vitória. Com tantas baixas, a alegria da vitória tornou-se sutis e exaustos sorrisos, sem alaridos, sem música, quase anticlimático. A verdadeira alegria da vitória ficou no flashfoward do finalzinho. Comemora-se não a derrota do inimigo, mas a felicidade de poder seguir a vida. Nesse sentido, o filme foi de extraordinária e surpreendente maturidade.
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